quinta-feira, 25 de junho de 2009

Interminências


Noite de poucas estrelas. Ele se encontra no seu âmago romance. No quarto apenas uma luz baixa, amarelada, difusa. Ao som de um blues e entorpecido pelo misto de cansaço e uma boa dose de uísque, escreve. Ao escrever escuta o estalar do gelo no copo, acompanhado de uma discreta essência de maçã-verde, incenso que acendeu há pouco. Na verdade, a noite se faz embaçada por fumaças nebulosas de uma noite de São João. Ávido pelas vivências planejadas (algumas por anos), vive poucas emoções em seu preâmbulo. Ter a certeza que o preâmbulo já é o livro propriamente dito não o faz mudar. A intensidade com que vive é a mesma, não admite o ato de boicotar-se.

Assim, cria e recria sua realidade e suas vertentes em conformidade aos pensamentos persistentes. Brinca com o jogo que é a vida, desafia o comum, o natural, apenas com o peito aberto e seu sorriso. Em suma, sua transformação é constante porque caminha na via negativa de todo o sistema. Seu amor torna-se sublime porque não tem cor, tempo, desejo, preceito, paladar. É tão puro, que torna-se disforme do atual, a ponto de acreditar que é um sentimento ameaçado de extinção. É apenas amor, em sua simples magnitude.

As lembranças de sua vida e seus momentos surgem como flashes reveladores de quem ele é. Se sente mais forte. Sua essência parece estar sempre propícia a mudanças modistas. A evolução deve ser algo muito além de momentos e modas. Em suas lembranças, as suas andanças são as mais incidentes. São os momentos em que tem mais contato consigo. Por isso anda e vive como andarilho foste.

J.Compasso

Trilha: August day song – Bebel Gilberto
Samba e amor – Bebel Gilberto
Pélicula: Cidade Baixa (2005) – Dir. Sérgio Machado

terça-feira, 23 de junho de 2009

Todos somos um


Fazemos parte de um todo
Somos todos iguais, da mesma matéria, do mesmo bruto
Sentimos dor juntos, mas também amamos em conjunto

Olhando nos olhos, nos reconhecemos
Olhando profundamente nos olhos, nos sentimos
Somos iguais; irmãos e irmães

Amemos uns aos outros como nos amamos
Amemos aos outros como amamos aos nossos
Ame agora, se reconheça agora

O frio baterá, mas o corpo esquentará
Doenças afugentarão, mas a presença do outro curará
Somos todos um só, nós somos um.

J. Compasso

Vitrola: We are One – Ziggy Marley
Película: Hair (1979) – Dir. Milos Forman

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Ho’oponopono

Há muito tempo atrás recebi um e-mail cujo nome era Ho’oponopono. O estranhamento foi minha primeira sensação, logo seguida pela curiosidade. Comecei a ler meio despretensioso como quem lê mais um daqueles e-mails de conteúdo duvidoso que rodam o mundo em correntes virtuais. No caso desses e-mails, tenho tolerância de três linhas até apagá-los, no máximo de um parágrafo, caso esteja de bom humor. Se passo dessa minha “censura”, é sinal de que o conteúdo merece atenção.

Assim foi com este e-mail o qual é motivo hoje de minha reflexão. A história tem no papel principal um psicólogo havaiano. Seu nome, Dr. Ihaleakala Hew Len. Ele havia trabalhado no Hospital Estatal do Havaí durante quatro anos. No pavilhão onde estavam os loucos criminais de maior periculosidade. Neste ambiente hostil, era normal, os psicólogos pedirem demissão após um mês de trabalho. A maioria das pessoas do hospital adoecia ou se demitia. O medo reinava e as pessoas evitavam aquele lugar; seja para trabalhar, viver ou visitar.

Ao assumir o trabalho no hospital e a difícil tarefa que se apresentava, fez uma exigência estranha. Não teria contato com os presos, trabalharia em uma sala do hospital. Assim, passava todo o seu expediente lendo os portuários dos doentes e trabalhando sobre si mesmo. Dentro de poucos meses, os pacientes que estavam acorrentados receberam a permissão para caminharem livremente. Outros, que tinham que ficar fortemente medicados, começaram a ter sua medicação reduzida. E aqueles, que não tinham jamais qualquer possibilidade de serem liberados, receberam alta.

Fiz o mesmo questionamento que fazem agora, como “trabalhando sobre si mesmo?”. Ele simplesmente curava nele o que criara de doente no outro. Ele acredita que tudo que esta ao nosso redor, é de nossa responsabilidade, porque de alguma forma interferimos nesse mundo criado por nós (se você assume completa responsabilidade por sua vida, então tudo o que você olha, escuta, saboreia, toca ou experimenta de qualquer forma é a sua responsabilidade, porque está em sua vida). E sua cura partia por bem dizer de um mantra, “Ho’oponopono”, que significa, “Sinto muito, te amo”. Hoje, o hospital está fechado, devido não existirem mais doentes. O Dr. Len virou uma espécie de Xamã avô e vive solitário.

Achei muito interessante essa história, por acreditar na cura pela energia. E resolvi por em prática esse “ensinamento”. Infalivelmente, funcionou em todos os momentos. Quando me desentendo com alguém, procuro exercitar o Ho’oponopono e geralmente, recebo um pedido de desculpas, ou uma mensagem de paz.

Sinto muito. Te amo.

J. Compasso

“O problema não está neles, está em você, e, para mudá-lo, você é quem tem que mudar”

Fonte: http://www.luzdegaia.org/aajuda/ho.htm
Pélicula: Bottle Shock (2008) - Dir. Randall Miller
Vitrola: Jundiaria – Arnaldo Antunes

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Dia dos namorados


O título não poderia ser mais clichê, tendo em vista a data a qual foi publicado. No entanto,só mais clichê que o título é “ter um dia dos namorados”. Datas comemorativas são criadas pelo capitalismo, já dizem alguns estudiosos e veteranos comunistas.

Distanciando-me desta discursão filosófica e partindo para um lado empírico romântico, acredito que o dia de hoje é de fato uma instituição falida. O mundo está um carnaval de olinda onde todo mundo é solteiro, ou seja, uma putaria. Com a facilidade e oferta de amores fulgazes e transas descomprometidas, a lealdade e a fidelidade estar lamentavelmente em extinção. As pessoas se tornaram menos tolerantes, mais egoístas e ávidas pela emoção da paixão. E o amor, o verdadeiro amor, tem sido esquecido. Vivem-se ilusões e conveniências.

Namorar não é apenas sair para jantar e tomar um bom vinho, mas ao fazé-lo olhar nos olhos do outro e sentir a felicidade de poder compartilhar aquele momento único. Não é apenas ir ao cinema dia de domingo, mas estando lá, encontrar uma boa posição entre aquelas poltronas que não são feitas para casal e assistir o filme acariciando seu amor. Não é só alegria e compartilhar coisas boas, mas sim, apoiar nos momentos ruins, e juntos com críticas construtivas procurar uma evolução conjunta. Namorar é presença, mesmo que longe. É andar de mãos dadas, é companherismo, felicidade, sorrisos, maturidade, flores, cuidado, liberdade, tolerância, caixa de chocolate, e é acima de tudo somar e nunca completar.

Crie surpresas para o seu amor. Existem de todos os preços, desde jantar no lugar mais caro até um piquinique com toalha quadriculada em algum parque, ambos serão maravilhosos se existir amor ao fazé-lo. Faça um jantar a luz de velas em um dia qualquer (não é clichê); leve-a em um lugar só seu; tenham músicas para situações diferentes; viajem; mande flores sempre; elogie; namore no sentido mais restrito da palavra (ou seja, seduza!), principalmente se estiverem juntos há anos; se esforce para não cair na tentação, aparecerão muitas e mantenha o esforço para estar sempre fazendo todas essas coisas; e nunca, nunca deixe de cuidar de seu amor.

O dia dos namorados deve ser todos os dias. Como costumo falar, o amor é como uma planta, é preciso regá-lo todos os dias.

J. Compasso

Trilha: Cuide bem do seu Amor – Paralamas do Sucesso

sábado, 6 de junho de 2009

Noites de Quinta

Estou atrasado. Fazem alguns meses que falto com o meu compromisso semanal. Ao chegar, estranho. O local mudou, esta cerca de 20 metros a frente. Agora trabalhamos em uma praça. Chego e antes de descer do carro, já me sinto em casa, sinto-me bem. Neste intervalo de tempo e ausência, muita coisa aconteceu. A priori, me surpreendo com o tamanho das crianças, “Uau...como cresceram!”. Antes de concluir essa minha primeira frase, escuto, “Jãaaaaaaaao...vem mainha, falar com ele”, era o Cleiton.

O conheci a cerca de cinco anos, era um garoto desengonçado, com pernas longas e olhar tímido, hoje é quase um homem. Jogávamos bola na rua do imperador por alguns minutos e conversávamos bastante nas madrugadas de quinta-feira. Um garoto bom, que morava em um prédio no cais, aonde várias famílias e moribundos haviam invadido. Certo dia, dei uma carona para ele até lá, lugar assustador. Ele me contara (junto com sua mãe zelosa que fazia questão de mostrar-se revoltada) que havia sido preso. Estava na CASEM, lugar para menores infratores por estar portando uma arma, junto com outro menor de 13 anos. Com a desocupação do prédio, eles haviam se mudado para a favela de Joana Bezerra, onde segundo sua mãe, “se juntou com quem não devia”. Durante a hora que passei lá, me dediquei saber por que tomara esse caminho e como estava sendo sua vivência na CASEM. Ele que estava sob “custódia” da mãe, devido uma suspeita de conjuntivite, falou como havia chegado àquela situação. Seus olhos continuavam os mesmos de quando eu o conheci, só que agora sentia sua vergonha pelo o que tinha feito em relação a mim. Nos despedimos.

Logo, fomos ao segundo ponto. Dei “carona” a quantos couberam. Acredito que era a primeira vez que uma senhora de 70 anos (que carregava fardos bastante pesados) andava de carro, tal qual seu neto de 4 anos. Lá chegando, senti uma imensa felicidade de encontrar velhos amigos. As crianças: Deyse, Charlene, Indiana, Alex e companhia estavam maiores, mas parecia que estive sempre ali, me olhavam com muito carinho. As brincadeiras e os pedidos eram os mesmos. Procurei por alguns que não achei. Tinha uma criançada nova, mas com o mesmo amor. Rodrigo um garoto de 3 anos veio e abraçou minha perna, quando olhei para baixo, sorriu.

Fiquei feliz ao ver o “cabelo” que sairá da prisão e estava, cuidando de sua família e procurando emprego. Fiquei triste pelo “galego”, a ex-mulher dele (que tanto vez para tirar ele da prisão) disse que ele estava bebendo muito, envolvido com quem não prestava e ausente com suas lindas filhinhas. Disse que semana passada ele tinha ido me ver, mas não fui. Surpreendi-me com Chaiene que sofreu um assalto de ônibus levou um tiro na barriga, mas já estava bem. A “maga” voltou a cheira colar, abandonou seu bebê e estava definhando. Fiquei feliz por perguntarem pelos meus (pessoas que amo e que um dia levei para essa experiência). As minhas noites de quinta são assim, felizes e cheia de amor.

J. Compasso

Trilha: Bairro Novo/Casa Caiada - Eddie

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A corrida de anseios

Priiiiiiiiiiiiiií!!!

Mais uma vez é suado o apito. É dada a largada. Segurem os seus, rezem para os orixás e torçam para não serem pisoteados. Afinal o seu coração está em jogo!

O tempo ruge e todos correm nesta loteria que é a vida. Os anseios e desejos são muitos. São muitos, porém são desejados por todos. Todos parecem querer a mesma coisa. Em uma economia capitalista, os desejos são rótulos que são vendidos em enlatados, como os ideais. Outro dia, andava na rua quando vi uma loja vendendo a camisa do Guevara, ao lado da camisa da coca cola. Como se dissesse, “compre aqui sua rebeldia política ou esteja descolado”. Os ideais não se vedem em bancas de camisa ou revista, assim como os nossos desejos. Somos seres humanos diferentes e consequentemente gostamos diferente.

No entanto, acredito que exista uma coisa que todos os seres humanos desejem. Não importa sua nacionalidade, nem muito menos sua crença. Todos querem amar e serem amados. E mesmo isso, que todos desejam, é atropelado por essa “corrida milionária”.

Hoje presenciei dois casos:
O primeiro foi uma garota que tem namorado. Contava que tinha ganhado um ingresso vip de um show de forro (dessas bandas “calorosas”), mas que não pudera ir porque iria trabalhar. A parte que me chamou atenção, que me fez escrever sobre isso, foi quando ela disse
– Já havia até pensado em como dar o “balão” no meu namorado.
A segunda, foi cerca de oito horas depois. E outra garota me falava de como desejava encontrar uma pessoa que a amasse. Que desejava ter filhos, mas para isso precisava de uma pessoa verdadeira, que a amasse.

Em ambos os casos, não existem julgamentos sobre as pessoas. Não vos digo que a primeira é melhor que a segunda, ou vice e versa. O que me fez falar sobre isso, primeiro foi à naturalidade a qual a primeira declarou seu “plano”. E por demais, que o que desejamos pode estar ao nosso lado e devido a essa corrida maluca de anseios e desejos que nos fazem acreditar, esvaímos os nossos sentimentos mais verdadeiros. E quando tudo passar, não terá mais jeito. Corram atrás do que realmente desejam.

J. Compasso