quinta-feira, 25 de junho de 2009

Interminências


Noite de poucas estrelas. Ele se encontra no seu âmago romance. No quarto apenas uma luz baixa, amarelada, difusa. Ao som de um blues e entorpecido pelo misto de cansaço e uma boa dose de uísque, escreve. Ao escrever escuta o estalar do gelo no copo, acompanhado de uma discreta essência de maçã-verde, incenso que acendeu há pouco. Na verdade, a noite se faz embaçada por fumaças nebulosas de uma noite de São João. Ávido pelas vivências planejadas (algumas por anos), vive poucas emoções em seu preâmbulo. Ter a certeza que o preâmbulo já é o livro propriamente dito não o faz mudar. A intensidade com que vive é a mesma, não admite o ato de boicotar-se.

Assim, cria e recria sua realidade e suas vertentes em conformidade aos pensamentos persistentes. Brinca com o jogo que é a vida, desafia o comum, o natural, apenas com o peito aberto e seu sorriso. Em suma, sua transformação é constante porque caminha na via negativa de todo o sistema. Seu amor torna-se sublime porque não tem cor, tempo, desejo, preceito, paladar. É tão puro, que torna-se disforme do atual, a ponto de acreditar que é um sentimento ameaçado de extinção. É apenas amor, em sua simples magnitude.

As lembranças de sua vida e seus momentos surgem como flashes reveladores de quem ele é. Se sente mais forte. Sua essência parece estar sempre propícia a mudanças modistas. A evolução deve ser algo muito além de momentos e modas. Em suas lembranças, as suas andanças são as mais incidentes. São os momentos em que tem mais contato consigo. Por isso anda e vive como andarilho foste.

J.Compasso

Trilha: August day song – Bebel Gilberto
Samba e amor – Bebel Gilberto
Pélicula: Cidade Baixa (2005) – Dir. Sérgio Machado

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