sábado, 6 de junho de 2009

Noites de Quinta

Estou atrasado. Fazem alguns meses que falto com o meu compromisso semanal. Ao chegar, estranho. O local mudou, esta cerca de 20 metros a frente. Agora trabalhamos em uma praça. Chego e antes de descer do carro, já me sinto em casa, sinto-me bem. Neste intervalo de tempo e ausência, muita coisa aconteceu. A priori, me surpreendo com o tamanho das crianças, “Uau...como cresceram!”. Antes de concluir essa minha primeira frase, escuto, “Jãaaaaaaaao...vem mainha, falar com ele”, era o Cleiton.

O conheci a cerca de cinco anos, era um garoto desengonçado, com pernas longas e olhar tímido, hoje é quase um homem. Jogávamos bola na rua do imperador por alguns minutos e conversávamos bastante nas madrugadas de quinta-feira. Um garoto bom, que morava em um prédio no cais, aonde várias famílias e moribundos haviam invadido. Certo dia, dei uma carona para ele até lá, lugar assustador. Ele me contara (junto com sua mãe zelosa que fazia questão de mostrar-se revoltada) que havia sido preso. Estava na CASEM, lugar para menores infratores por estar portando uma arma, junto com outro menor de 13 anos. Com a desocupação do prédio, eles haviam se mudado para a favela de Joana Bezerra, onde segundo sua mãe, “se juntou com quem não devia”. Durante a hora que passei lá, me dediquei saber por que tomara esse caminho e como estava sendo sua vivência na CASEM. Ele que estava sob “custódia” da mãe, devido uma suspeita de conjuntivite, falou como havia chegado àquela situação. Seus olhos continuavam os mesmos de quando eu o conheci, só que agora sentia sua vergonha pelo o que tinha feito em relação a mim. Nos despedimos.

Logo, fomos ao segundo ponto. Dei “carona” a quantos couberam. Acredito que era a primeira vez que uma senhora de 70 anos (que carregava fardos bastante pesados) andava de carro, tal qual seu neto de 4 anos. Lá chegando, senti uma imensa felicidade de encontrar velhos amigos. As crianças: Deyse, Charlene, Indiana, Alex e companhia estavam maiores, mas parecia que estive sempre ali, me olhavam com muito carinho. As brincadeiras e os pedidos eram os mesmos. Procurei por alguns que não achei. Tinha uma criançada nova, mas com o mesmo amor. Rodrigo um garoto de 3 anos veio e abraçou minha perna, quando olhei para baixo, sorriu.

Fiquei feliz ao ver o “cabelo” que sairá da prisão e estava, cuidando de sua família e procurando emprego. Fiquei triste pelo “galego”, a ex-mulher dele (que tanto vez para tirar ele da prisão) disse que ele estava bebendo muito, envolvido com quem não prestava e ausente com suas lindas filhinhas. Disse que semana passada ele tinha ido me ver, mas não fui. Surpreendi-me com Chaiene que sofreu um assalto de ônibus levou um tiro na barriga, mas já estava bem. A “maga” voltou a cheira colar, abandonou seu bebê e estava definhando. Fiquei feliz por perguntarem pelos meus (pessoas que amo e que um dia levei para essa experiência). As minhas noites de quinta são assim, felizes e cheia de amor.

J. Compasso

Trilha: Bairro Novo/Casa Caiada - Eddie

Um comentário:

  1. "Sentir" o outro ajuda a tirar nosso umbigo do centro do universo e ainda faz um bem danado.

    Seja lá o que for, parabéns pelo trabalho e continue espalhando seu amor pelo mundo. É de graça, genuíno e abundante...

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