segunda-feira, 27 de abril de 2009

Insetos no Pára-brisa



Mas uma vez ele partira em suas viagens. Viagens estas que o fazia sempre que possível, dentro do seu quarto ou fora dele. Porém desta vez, dirigia. Dirigia em pleno dia. O sol o acompanhava como quem abria com sorrisos o seu caminho. O som que o seguia além do terno e agressivo vento entrando pela janela era um clássico do Frank Sinatra, “My Way”. Mais a frente à vista algo estranho e belo. Observa a muitos quilômetros de distância uma nuvem e seus menores transcendidos em gotas de água. Fazem-se presente por uma faixa, aonde respeitam cuidadosamente o seu limite e derramam-se na pista por alguns minutos enquanto a atravessam e adentram ao milharal. Aquela cena o marca profundamente, compreende que aquele rito de passagem era necessário e único. Se sente por alguns minutos, privilegiado por testemunhar aquele feito. Finalmente, não demora muitos minutos, alcança aquela nuvem que já segue pelo milharal deixando parte de si.

Naquele momento, observa algumas nuvens sendo perfuradas por raios de sol tão nítidos que criara formas geométricas e psicodélicas. Detém-se maravilhado. Nasce um lindo arco-íris em cima de sua cabeça. Inegável, devido seu espírito infantil, não imaginar que perto daquele local existira um baú repleto de ouro. Porém, não tinha vontade de chegar ao baú, nunca a tivera na verdade, se sentia rico por ter um arco-íris sobre seus pensamentos. Ainda em êxtase e dirigindo sobre o asfalto molhado observou que incidentemente insetos e mais insetos eram estourados no seu pára-brisa. Era sabido que próximo ao arco-íris a população de borboletas se intensificava. Chegou a perder alguns segundos questionando o porquê deste “fenômeno”; o arco-íris o fizera doce? Continuou a dirigindo e acabando com vôos de todas as cores em seu pára-brisa.

Ele não pode deixar de pensar que por vezes se sentira como esses insetos na sua luta de sobrevivência diária. Acreditavam que por estar voando sobre doces e inocentes arco-íris esse momento se fazia eterno. Não importaria a força ou a velocidade que fizera em seu vôo. Por mais que lutasse com suas asas aparentemente frágeis e amareladas, em um movimento incessante de vôo, o pára-brisa sempre o alcançaria com um beijo fatal. Splaf!

J. Compasso

Tela - Impression du Soleil Levant (1873) - Claude Monet
Película - Eden à l'Ouest (2009) Dir. Costa-Gravas

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Ventos verdes, ventos fortes, ventos saudosos



Hoje ele acordou e respirou o ar mais puro, o ar da vida, o ar verde. Aquele combustível entrava em seu corpo e o saudava com vida. Seus olhos se perdiam no horizonte alado. São terrenos irregulares, na sua maioria verde, em diversos tons. Casebres ao longe se misturam com casarões. A vida aqui é simples e saudável. Dorme-se cedo, acorda-se ao som dos animais, eles ditam o ritmo. Após se levantar, molhou seu corpo num delicioso banho. Não, não eram águas de uma cachoeira, nem mesmo de um límpido lago, tomara banho em um chuveiro, porém, ao som dos ditos animais. Em sua companhia, a melhor e a que desejara para aquele momento bucólico e especial. Como a muito não faziam, se banharam e se cuidaram. Era um momento que já vivera muitas vezes, portanto até rotineiro, porém por ter-se passado alguns meses longe, existia algo diferente. Soube em momentos como este que já não era a mesma coisa. Não que o achasse ruim, mas diferente. A estranheza desta situação o fez refletir.

Depois de um café da manhã maravilhoso com pessoas que o fazem feliz, caminhou com sua registradora digital até a varanda. Pouco tempo depois eles caminhavam explorando as minúcias da mata. Muitos momentos registrados, muitas vidas invadidas pelo seu olhar digital, momentos dentre milhares que foram escolhidos para se tornarem únicos na sua lente. Assim o fez, comeram frutas, analisaram tipos de folhas e frutos, tentaram interagir com todos os tipos de animais, desde os minúsculos insetos até perus e cães. As cores impressionavam eles, pareciam que nunca tinham estado ali antes, era um mundo inventado, criado, real.

A leveza infantil também se fazia presente com lindos cachinhos de mel a balançar nos ventos verdes. A chuva que é tão bela como o sol, dividiu o dia com este, lhe cabendo a tardezinha. Suas gotas o molhavam. Caiam desordenadamente no seu corpo e aos poucos o preenchiam. Ele curtira esse momento cinzento, ele vivera cada cor. A água da chuva tinha um cheiro peculiar, ela conseguia reunir o odor da terra molhada, do mato e do seu corpo. Estava completo, ele era esse misto, a natureza o era.

J. Compasso

Trilha - Cafe del Mar

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Renovação


Acordo hoje e sinto que o dia é de transformação. É hora de se levantar, bater a poeira que a muito dorme, trocar retratos que não o fazem mais, em fim hora de renovar. Todo o processo sempre é bem árduo, pois nas escolhas que fazemos ao renovar, muita coisa fica para trás. Algumas cabem em uma caixinha feita de guardanapos de rosas, outras não, mas o maior baú é o nosso coração. Ali, certamente ficará guardado as nostalgias de um verão, de dias bons e ruins, de pessoas importantes que passaram em nossa vida.

Já era tempo desta renovação, precisava-a com certa urgência. No entanto, vos digo que a renovação não cabe apenas ao círculo material, ela vai além. E é preciso estar bem, ou melhor, respeitar o tempo de cada pessoa, este é único e peculiar.

Sinto-me mais harmônico. É certo que meu quarto está aparentemente mais vazio, os porta-retratos não parecem ter utilidade, algumas cores já não se fazem mais presente. Alguns poucos podem ter a sensação de perda, mas os digo que confundem com ausência. Não existe perda quando o sentimento continua em mim, mesmo que latente, existe ausência de elementos. Esses elementos mesmo que ausentes existem, na perda eles não existem mais. A renovação só é possível quando existe porta-retratos vazios.

J. Compasso

Trilha - Enya

terça-feira, 14 de abril de 2009

Descobertas


Descobrir que as pessoas sempre passam
por mais que se mantenham em nossa memória

Que experiências de vida sempre te acrescentaram de alguma forma
E você será maior por te-las

Que não importa o quanto é bom, ou esta sendo bom, aquilo ficará unicamente em um espaço do tempo e na sua memória

Que enfrentar limites e medos também te deixa maior, porém a maioria não o faz
Que essa mesma maioria liga o chamado “piloto automático” e vive (sobrevivi?)

Que todos os dias tomamos não uma, mas centenas de decisões: tomar banho? quente, frio, ou morno; escovar os dentes? antes ou depois; ir ao trabalho? carro, andando, a pé, metro

E que diante dessas decisões que achamos que não podemos escolher, por estarem condicionadas, renegamos as outras opções

Que estar só, não é estar triste
Que estar reflexivo, não é estar deprimido

Experimentem! Só quem pode falar com respaldo, é quem se permiti a viver

Você esta exatamente aonde gostaria de esta agora? Quem é você?


J. Compasso, um eterno sonhador

Película: Marley e Eu
Trilha: Curva Verde - Rivotrill

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Em busca...


Era uma vez um garoto...

Parece conto de fadas? E poderia ser, mas é realidade. Esse garoto acreditava em contos, em sonhos e fadas. Acreditava ser várias pessoas, tinha amigos imaginários e em seus sonhos, o seu predileto e mais rescindente era o que ele voava. Voava livre, preferencialmente à noite, pleno e sem medo. Ele acreditava. Acreditava tão fielmente, que pudera tudo. Sempre desafiou o mundo e vivera com a constante certeza de que nada era grandioso demais.

O tempo passa e sucumbi não só a inocência, mas o sonho puro. Estes são substituídos por coisas muito mais palpáveis, maduras, ou seja, "adultas". Então esse garoto, que por seus novos anseios, não mais pudera ser considerado um garoto, deseja carros, dinheiro, empregos "importantes". Ele não sonhara mais com seus vôos noturnos, ele quase não sonhara a noite, não pudera mais voar.

Em um pequeno surto emocional, revive a nostálgica saudade de voar. É revelado, então, o assustador e encantado mundo que este abandonou. Envolvido por aquele surto nostálgico, avança neste mundo, com os olhos cheios de água-sonho, tentando de alguma forma resgatar aquele sentimento tão genuíno. Ao se deparar com seu fracasso, derramara incansavelmente lágrimas de sonhos impossíveis e se questionara incessantemente...

- Eu não posso mais voar. Eu não consigo mais voar. Porquê?

No silêncio de seus pensamentos conformados, entre seus soluços já cansados, surgi uma luz, uma fada (como quisera chamar) que diz,

- Basta acreditar!

J. Compasso

Pelicula - Em busca da Terra do Nunca (2004)
Trilha - Tomara (Vinícius de Moraes e Marilia Medalha)

terça-feira, 7 de abril de 2009

Gota d'agua



Assim será até quando não existir mais nada

e juntos caminharemos esgotados e cansados

respirações ofegantes serão uma prova de que ainda estamos vivos

os pés calejados arrastaram e nos guiaram

e quando finalmente chegarmos, olharemos ao nosso redor

veremos uma vegetação inexistente e um clima amarelo-cinza

animais? Poucos além de nós, estamos atrofiados e secos

desejando apenas uma gota d’agua
PRESERVAR É VIVER

J.Compasso

Trilha - Preciso me encontrar (Marisa Monte)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Ciclos se renovam..


Hoje é um dia como outro qualquer. O sol nascerá e depois de (cerca) 12 horas irá se por. E esse ciclo se renovará sempre. É algo contínuo, vivo. E assim segue a lei da natureza, pessoas nascem e morrem todos os dias. Vegetais, animais e todos os seres vivos repetem esta “ordem natural”. Até mesmo a ordem mineral, as rochas se desgastam com o tempo e com o tempo, vulcões, ou minérios em altas temperaturas se constituem. Ou seja, tudo esta em constante movimento, renovação e transformação.

Seria péssimo para nós, seres humanos pensantes (algumas pessoas se esquecem desse último atributo), passar o resto de nossas vidas nesta eterna “rotina”. Então, ritualizo, crio e acredito, em algumas datas como pontos de renovação. E hoje é uma dessas datas. Acordei cedo, bem cedo e vi o sol nascer. Esse simples ato me fez pensar que o sol o faz assim por milhares de anos. E o que o faz ser especial naquele dia? O meu olhar. Um pouco mais tarde, fui à praia e o mar estava lindo. Refleti um pouco sobre o ano que passou e agradeci pelas coisas boas que a mim vieram. Agradeci pelos ensinamentos que tive com as coisas, digamos “não desejadas”. Tomei um banho de mar e pedir para que aquelas ondas levassem todas as impurezas daquele ano que passou. E que as mesmas ondas trouxessem todos os sonhos.
Caminhei um pouco, sentir o sol, o vento, o som do mar e voltei para casa. No caminho um som sagaz. Chego em casa, tomo um excelente banho, acendo um incenso, ponho um som tranqüilizante e leio um bom livro. Falo com pessoas que amo. E concluo minha manhã almoçando com outras delas, minha família.

Essa é minha verdadeira renovação. A valorização do que faz me sentir bem, do simples, do amor. Sinto-me mais vivo ao me sentir parte da natureza. Somos parte de um todo, “todos somos um”, como dizia a música.

Evoé!
J. Compasso

Trilha: Todos somos um - Chimarruts